segunda-feira, 8 de abril de 2013

Matéria no Zero Hora sobre Emilia Clarke no teatro com um dos papéis mais famosos de Audrey Hepburn



A lembrança de Audrey Hepburn no papel de Holly Golightly paira sobre a nova adaptação de Richard Greenberg para Bonequinha de Luxo, de Truman Capote. Quando as luzes se apagaram no Teatro Cort, na Broadway, onde a peça estreou em 20 de março, o público tinha a certeza de vê-la a qualquer momento, alta e elegante, com os óculos de sol e o tubinho preto Givenchy, acenando aquela cigarreira ridiculamente longa. Em vez disso, a Holly que surgiu foi a baixinha Emilia Clarke, mais conhecida pela série da HBO,Game of Thrones, na qual interpreta Daenerys Targaryen, a rainha do Dothraki, de cabelo platinado e quase sempre nua, que anda com dragões e come coração de cavalo.
Como tudo que Hepburn fez, sua atuação no filme de 1961 é tão equilibrada e charmosa que fica quase impossível censurar, mas, apesar disso, muitos críticos já disseram - sendo um deles Sam Wasson em Fifth Avenue, 5 A.M., história do making of do longa - que ela não era adequada para o papel. Era elegante demais e não vulnerável o bastante. A primeira escolha de Capote na verdade foi Marilyn Monroe, em cuja vida pode ter se baseado para criar a personagem.
Em seu roteiro para o teatro, Greenberg tomou um grande cuidado para enfatizar o lado solitário e assustado de Holly e não vacilou em tratar do que o filme tentou ignorar: o fato de que ela ganhava a vida em troca de favores sexuais. E também tentou dar mais destaque à parte do narrador, o substituto de Capote conhecido como Fred no espetáculo.
Embora essa nova versão esteja muito mais próxima do espírito da história, Greenberg e todo o resto da equipe sabem muito bem que a coisa toda depende de Holly. É um papel que nem Mary Tyler Moore, no musical fracassado de 1966 de David Merrick, conseguiu acertar. Encontrar a atriz certa, como Greenberg explicou, foi "a busca pela Scarlett O'Hara do nosso tempo".
A escolhida, Emilia Clarke, tem 25 anos e, na vida real, olhos verdes e cabelo castanho avermelhado (e não a versão descolorida e escorrida dos Targaryen da tevê), além do autocontrole de uma pessoa bem mais velha. Sentada à mesa de um hotel de Manhattan, ela admitiu ter passado alguns momentos de nervosismo como Holly, mas não muitos.
— No primeiro dia de ensaio comecei a pensar e quase passei mal - ela conta. - Mas depois disso entrei no ritmo e tem sido uma alegria só.

Tirando o fato de gostar de roupas da moda, Clarke não tem muita coisa em comum com Holly. Foi criada na Inglaterra, onde a mãe é executiva de uma empresa de TI e o pai um famoso engenheiro de som do teatro. Frequentou colégios exclusivos e tem o sotaque para provar, além de ter se beneficiado muito do que chama "esse mistério que é a sorte". Depois de ser rejeitada pela Academia Real de Artes Dramáticas, em 2005, tirou um ano de folga, viajou pelo mundo e se inscreveu no Drama Center London (muitas vezes chamado de Trauma Center pelos alunos), onde conseguiu entrar depois de amargar uma lista de espera.
— O que não faltava no meu ano eram meninas lindas e loiras, que sempre eram escaladas para o papel de Julieta e similares. Eu ficava com os das avós judias e outros papéis caricatos que, na verdade, foram os melhores, pois me conscientizaram da minha capacidade como atriz.
Game of Thrones foi seu primeiro trabalho de verdade e o telefonema para substituir uma atriz do piloto veio do nada, explica ela, durante um "ano bem deprimente", quando lutava para conseguir pagar o aluguel.
- Nunca tinha ouvido falar dos livros de George R.R. Martin - acrescenta, - então passei 48 horas feito louca pesquisando na Wikipédia.
A princípio, Game of Thrones era a única coisa que Sean Mathias, o diretor deBonequinha de Luxo, sabia sobre Clarke. Em Londres, em 2009, ele dirigiu outra versão da peça, com roteiro de Samuel Adamson e estrelada por Anna Friel, que recebeu críticas bem decentes.
Entretanto, ele achou que podia fazer melhor e gostou da ideia de levar a peça para Nova York.
— É uma história que se passa em Nova York, merece ser produzida na cidade.
E o que pesou muito quando Clarke apareceu foi o fato de ela ser jovem e desconhecida.
— No livro, Holly tem 18 anos e 10 meses. Eu disse aos produtores que seria melhor trabalhar com alguém novo. Foi então que conheci Emilia e fiquei entusiasmado com sua beleza e postura. Ela é uma tremenda mistura de verdade e estilo, drama e comédia, e eu precisava dessas características em Holly.
E acrescentou:
— Acho que uma atriz já estabelecida ficaria meio intimidada de assumir o "manto" que pertence a Audrey. Uma jovem como Emilia é como um livro aberto. Foi o que Michelle Williams fez com Marilyn, um lance tão natural que supera a interpretação.
Greenberg diz sobre Clarke:
— Só visitei os ensaios, mas nunca a vi intimidada. Apesar de pequenina, ela é animada e primorosa. Passa uma ideia de que não há ninguém como ela, de ser única.
No último dia antes de ir para o teatro, Clarke ensaiou pela primeira vez a cena final com Cory Michael Smith, que interpreta Fred. Ela foi muito cuidadosa, às vezes parando durante longos momentos para absorver as sugestões de Mathias. A princípio, ela quase não aparecia, mas depois foi crescendo em cena.
Clarke se disse obcecada por Hepburn desde que tinha cinco anos, quando começou a verMy Fair Lady quase todo dia depois da escola. Do filme Bonequinha de Luxo, ela diz:
— O que você vê ali é a perfeição, algo impossível de imitar ou copiar. Pode até se inspirar, mas isso só fará com que queira ir fundo na fonte, no drama, analisar cada detalhe, começando pelo fato de que Holly é uma garota produto da Grande Depressão de 1929. Pode começar por aí e tentar entender o mundo dela e perceber que ela se arriscou muito, que tinha que manter o mistério e a única maneira de conseguir isso era continuar fugindo.
E sorri, acrescentando:
— Se o pessoal chega esperando ver Audrey Hepburn, não há o que eu possa fazer. Só espero que não se decepcione muito.


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